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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

EZEQUIEL


EZEQUIEL
O profeta e o seu meio
Em 2Rs 24.8 lemos: “Tinha Joaquim dezoito anos de idade quando começou a reinar e reinou três meses em Jerusalém.”

 Esse curtíssimo reinado terminou no ano 597 a.C., quando o rei Nabucodonosor entrou em Jerusalém, despojou todas as suas riquezas e deportou para a Babilônia a maior parte dos seus habitantes: 

Joaquim, rei de Judá, os aristocratas, os militares e os artesãos qualificados; e, junto com todos eles, as suas famílias (cf. 2Rs 24.8-17).

 É muito provável que, naquele tempo, entre os componentes daquela primeira deportação, estivesse também o sacerdote Ezequiel, filho de Buzi.

 Este foi residir às margens do rio Quebar, entre os seus compatriotas cativos, e ali mesmo o Senhor o chamou para exercer o ministério da profecia (cf. 1.1-3).

Recebeu a sua vocação em meio a uma visão que mudou por completo a sua vida. A partir daquele momento, Ezequiel se converteu no porta-voz de Deus junto aos exilados (3.10-11), atividade que desempenhou pelo menos até o ano 571 a.C., ano ao qual corresponde o último dos dados cronológicos contidos no livro. 

Em uma época de grandes convulsões e mudanças políticas como foi a sua, o profeta, a partir da dura realidade do momento em que vivia (cf. 18.2,31-32), contemplava com tristeza a história das infidelidades de Israel: “A casa de Israel se rebelou contra mim no deserto” (20.13; caps. 16; 20; 23).

 Contudo, via com esperança um futuro de salvação: “E habitareis na terra que eu dei a vossos pais; e vós me sereis por povo, e eu vos serei por Deus” (36.28; caps. 36—37).

Na realidade, a situação do reino de Judá, que nunca esteve de todo estabilizada depois dos reinados de Davi e Salomão, foi-se tornando cada vez mais difícil, até que no ano 586 a.C. soou a hora do desastre definitivo: 

Nabucodonosor destruiu Judá, assediou, tomou e arrasou Jerusalém, incendiou o templo e enviou desterrada para a Babilônia a mais representativa parte da população que havia ficado na cidade (2Rs 25.1-21).

Com o passar do tempo, muitos dos exilados acabaram por acomodar-se à sua situação, porque na Babilônia desfrutavam de uma relativa liberdade que lhes permitia formar família, trabalhar, negociar, criar riqueza e, inclusive, alcançar cargos importantes. 

Com efeito, houve igualmente muitos que, protegidos pelo edito do rei Ciro, voltaram à Palestina, à Terra Prometida e à saudosa Jerusalém, a “morada do Altíssimo” (Sl 46.4).

O profeta Ezequiel foi, sem dúvida, uma das pessoas que mais contribuíram para manter vivo entre os judeus do exílio o desejo pelo retorno.

 Essas ânsias de regresso eram necessárias para empreender a reconstrução da cidade e do templo.

 Além disso, eram indispensáveis para evitar que o povo chegasse a perder a sua identidade nacional, por causa da permanência durante um tempo excessivo em um lugar tão cheio de atrativos, como era então a Babilônia, o mais brilhante centro político e cultural do Oriente Médio (cf. Sl 137).
O livro e a sua mensagem
Na primeira etapa do seu ministério, antes que Jerusalém fosse destruída, como é indicado no Livro de Ezequiel (= Ez), o profeta já havia anunciado que a ruína da cidade se aproximava irremediavelmente (9.8-10).

 A história do povo de Israel era por inteiro uma série de infidelidades ao Senhor, a quem por várias vezes abandonaram para prestar honras a deuses estranhos. Mas a cidade de Jerusalém era onde se dava a maior concentração de maldades (caps. 8—12), um lugar cheio de crimes que a justiça de Deus não podia deixar impune (22).

Ezequiel queria dar vigor à mensagem que pregava, para fazê-la calar mais fundo no coração dos seus ouvintes, freqüentemente rebeldes e céticos. 

Como possuía uma voz suave (33.32), os surpreendia, às vezes, com estranhas dramatizações, com atos simbólicos (caps. 4—5) que os convidavam a perguntar-lhe: “Não nos farás saber o que significam estas coisas que estás fazendo?” (24.19).

A queda de Jerusalém veio demonstrar a autenticidade das profecias de Ezequiel (33.21-22). Naqueles momentos, o seu prestígio alcançou provavelmente a mais elevada consideração por parte dos seus compatriotas exilados.

 De forma especial, a missão do profeta consistiu em fazer as pessoas compreenderem as verdadeiras causas do desastre sofrido, bem como em prepará-las para a obra de reedificação à qual os repatriados haveriam de dedicar-se (36.16-19).

 E não há dúvidas de que o seu ministério contribuiu, em grande medida, para fazer do exílio na Babilônia precisamente uma das épocas mais fecundas da história do povo de Deus. 

Ezequiel via no desterro babilônico uma espécie de regresso ao êxodo do Egito, àquele deserto que Israel teve de atravessar antes de entrar em Canaã. E agora, do desterro na Babilônia, haveria de sair, purificado, o novo povo de Deus (20.34-38).

Os temas da pregação de Ezequiel naquele período da sua atividade encerram uma grande riqueza doutrinal, baseada na esperança da salvação que havia de chegar.

 Ele anuncia que o povo disperso seria reunido novamente e conduzido à Terra Prometida (34.13; 36.24). 

Como o pastor apascenta as suas ovelhas, assim o apascentará o Senhor e o guiará a lugares de descanso: “Eu apascentarei as minhas ovelhas, e eu as farei repousar, diz o Senhor Jeová” (34.15). 

Particularmente significativa é a linguagem do profeta quando se refere à transformação que o Senhor há de realizar no povo resgatado do exílio: “Então, espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.

 E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.” (36.25-27).

A pregação de Ezequiel, enquanto se refere primeiro ao exílio e depois à restauração de Judá e Jerusalém, está contida nas respectivas seções dos caps. 4—24 e 33—39. 

Entre elas se intercala uma série de profecias dirigidas contra cidades e nações pagãs relacionadas com Israel (caps. 25—32), pois, mesmo que em algum momento Deus tenha se servido dos pagãos como instrumentos da sua ira, a soberba e a crueldade com que se conduziram os fizeram credores do castigo que haveriam de sofrer.

Diz-se que na pessoa de Ezequiel convivem o profeta e o sacerdote, o homem contemplativo e o de ação, o poeta e o raciocinador, o anunciador de males e o arauto da salvação. Tal riqueza de personalidade se revela na sua mensagem profética, igualmente rica e complexa. 

Na sua condição de profeta, Ezequiel estava persuadido de haver sido chamado a estar como atalaia sobre Israel em um dos períodos mais críticos da sua história nacional: “veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel” (3.16-21; 33.1-9).

 Ao mesmo tempo, na sua condição de sacerdote, anela pelo retorno da glória do Senhor ao templo de Jerusalém (43.1-5; cf. 10.18-22) e revela um grande horror por tudo quanto significa impureza ritual (4.14) e uma extrema minúcia na distinção entre o sagrado e o profano (43.6—46.24).

Os caps. finais (40—48) contêm uma visão do profeta em referência à situação do povo de Israel, quando, no futuro, se reorganizasse como nação e voltasse a celebrar o culto no templo restaurado (40; 43.7,18).
Esboço:

1. Vocação de Ezequiel (1.1—3.27)
2. Profecias sobre a queda de Jerusalém (4.1—24.27)
3. Profecias contra as nações pagãs (25.1—32.32)
4. A restauração de Israel (33.1—39.29)
5. O novo templo na Jerusalém futura (40.1—48.35)



Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, S. Ez 

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