>

sábado, 29 de setembro de 2012

APOCALIPSE


APOCALIPSE
Caráter do livro
Este livro, assim como o restante do Novo Testamento, foi redigido originalmente em grego; começa com a mesma palavra do título: apokálypsis, que significa “revelação” (1.1). João, o autor, se serve dela para pôr em destaque o caráter profético do seu escrito (1.3; 10.11; 22.7,9,10).

O Apocalipse (= Ap) é uma mensagem dirigida, em primeiro lugar, a igrejas concretas, a comunidades cristãs contemporâneas do escritor. A elas ele anuncia que Cristo cumpriu, em todos os seus termos, o plano redentor preparado por Deus. Mas o valor dessa mensagem vai além da época do profeta; tem um alcance geral: Cristo, vencedor do mal e da morte, associa a sua própria vitória a todos os crentes, já aqui e agora, enquanto ainda estão sujeitos às realidades do mundo atual.

O Apocalipse testifica a respeito da ressurreição de Jesus Cristo, acontecimento fundamental da fé e do anúncio do evangelho (cf. 1Co 15.14-17) e sinal da presença do Reino de Deus. É um testemunho expresso em uma linguagem característica, rica em símbolos, imagens e visões, elementos com os quais o autor compõe uma espécie de drama cujo âmbito é o universo inteiro.

Essa linguagem corresponde ao gênero literário chamado “apocalíptico” (ver a Introdução a Daniel). Os profetas do Antigo Testamento, como Isaías (caps. 24—27), Joel (cap. 2), Ezequiel (caps. 1 e 40—48) e, sobretudo, Daniel (caps. 7—12) e Zacarias (caps. 1—6), utilizaram esse gênero literário, o qual alcançou a sua maior divulgação nos meios judaicos a partir do séc. II a.C.
A literatura apocalíptica
A literatura apocalíptica judaica surge em circunstâncias especialmente angustiantes, como quando o povo se acha submetido ao poder político e militar de alguma nação estrangeira. Esta era a situação no séc. I d.C., quando a Palestina estava dominada pelo Império Romano. Naquele momento, as leituras apocalípticas alentavam as pessoas e renovavam as suas esperanças com descrições de um futuro próximo, em que a vitória gloriosa de Deus sobre todos os seus inimigos haveria de inaugurar para Israel uma era de paz e bem-estar sem fim.
Autor e época de composição

O Apocalipse de João aparece, pois, em uma época crítica. Nesse caso, crítica para os cristãos, os quais, com idêntica força moral dos judeus, se opunham ao paganismo de Roma e à religião estatal, expressa no culto ao imperador divinizado. Este era um culto que, com caráter oficial e obrigatório, se celebrava em altares e templos erigidos tanto na capital do Império como nas suas províncias mais distantes. Os cristãos, ao se recusarem a tomar parte naquelas cerimônias, foram considerados inimigos de Roma e foram perseguidos até a morte.

João, o autor do Apocalipse, também padeceu vítima da perseguição. Provavelmente, próximo do final do governo de Domiciano (81-96 d.C.), tenha sido desterrado para a “ilha chamada Patmos” (1.9), onde escreveu o seu livro entre os anos 93 e 95.
Teologia do Apocalipse

João identifica a si mesmo como profeta (10.11; 22.9) e denomina de “profecia” a sua mensagem (1.3; 22.7,10,18-19); mas, diferentemente dos profetas do Antigo Testamento, o que ele proclama é a esperança no Cristo ressuscitado, “aquele que é, que era e que há de vir” (1.8). Cristo, o Messias, é “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (19.16), é “o Verbo de Deus” (19.13), que vive para sempre (1.17-18). O seu regresso, já iminente (22.6-7), assinalará o princípio de um “novo céu e nova terra” (21.1), de uma nova criação, para a qual se orientam as expectativas do povo crente, porque nela Deus terá o seu trono (20.11; 22.1,3), e “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor” (21.4).
Composição literária
A composição literária deste livro, o último da Bíblia, tem sido analisada de diversos pontos de vista, e são muitas as propostas que têm sido feitas para elaborar um esquema coerente dele.
A divisão do Apocalipse em duas seções principais é, provavelmente, a mais simples. A primeira seção (1.9—3.22), que se caracteriza pelas cartas dirigidas às sete igrejas da província romana da Ásia (1.4,11), contempla a realidade da igreja na perspectiva da sua vida e da sua atividade no mundo presente. A segunda seção (4.1—22.5) é formada por uma complicada série de visões, cujo argumento se desenvolve no céu. Sobre esse fundo se vão revelando as coisas que hão de acontecer no final dos tempos, quando Deus tiver manifestado o triunfo do seu Reino eterno. Um prólogo (1.1-8) e um epílogo (22.6-21) completam o texto.

Outra análise possível parte da observação de que, entre os símbolos do Apocalipse, há alguns que ocupam um lugar proeminente pela freqüência da sua aparição, como, p. ex., o número sete, que representa a perfeição dos seres e das coisas. O sete é constante nos conjuntos de espíritos, candeeiros, igrejas, estrelas, selos, trombetas e pragas. Inclusive o plano geral do livro parece organizado sobre a base dos sete atos principais que se vêem no esboço abaixo.
Esboço:
Prólogo (1.1-8)
1. As mensagens às sete igrejas (1.9—3.22)
2. Os sete selos (4.1—8.1)
3. As sete trombetas (8.2—11.19)
4. Os sinais simbólicos (12.1—14.20)
5. Os sete flagelos (15.1—16.21)
6. As visões do juízo (17.1—20.15)
7. A nova Jerusalém (21.1—22.5)

Nenhum comentário:

Postar um comentário